terça-feira, 29 de setembro de 2020

CARTA ABERTA EM FAVOR DA VIDA DOS PROFs DO COLÉGIO GOMES FREIRE DE ANDRADE CONTRA O RETORNO ÀS ATIVIDADES PRESENCIAIS NAS ESCOLAS ESTADUAIS DO RIO DE JANEIRO

É com grande preocupação que estamos observando, nos últimos dias, o posicionamento da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC -RJ), em relação à retomada das aulas presenciais nas escolas da Rede que se daria no dia 5 de outubro.

Mesmo sem existir um claro protocolo de segurança que garanta a volta dos profissionais de educação e dos alunos à normalidade em meio a pandemia por COVID-19, foi tomada uma decisão que, ao nosso ver, é marcada pela arbitrariedade e como um experimento que vulnerabiliza o corpo docente e discente, uma vez que no momento em que esta carta está sendo redigida, o Brasil encontra-se com a impressionante marca de mais de 139 mil mortes causadas pela Covid-19 [1]. É preciso mencionar também a subnotificação dos casos de Covid que distorce o número real de casos e mortes pelo vírus.

Essa decisão, tomada pelas autoridades de forma unilateral, ou seja, sem consulta à toda comunidade escolar como os funcionários, os diretores, os coordenadores pedagógicos, os docentes e os discentes e suas respectivas famílias, pode trazer graves consequências às diversas vidas em jogo. O argumento da secretaria é que estamos reduzindo a curva de contágio, mas na verdade essa é uma curva móvel, que se mostra diferente a cada dia. Apesar de uma aparente queda, como vimos recentemente, bares, praias e shoppings encontram-se super lotados, abrindo espaço para um possível aumento e, inclusive, novo pico de contaminação.

A impossibilidade de seguir o protocolo de segurança recomendado pela OMS (Organização Mundial de Saúde), quanto às testagens e impedimento das aglomerações, uma vez que o contato entre os alunos é uma constante dentro do espaço escolar, tendo em vista a falta de circulação de ar nas salas de aula das escolas estaduais, que em sua maioria não há janelas, mas sim, basculantes; corredores e banheiros sem ventilação alguma; pátios que não conseguem realizar as recomendações de distanciamento social, devido ao alto número de alunos previsto pela secretaria. Por esses motivos torna-se ainda mais preocupante o retorno às aulas presenciais. Esse regresso aumentaria a circulação de pessoas e o uso do transporte público, ampliando o contato e contágio, fazendo da escola vetor de propagação do vírus.

Sabemos da precariedade em que vive grande parte dos nossos alunos e seus familiares, e das dificuldades que a população está vivendo para manter a sua sobrevivência. Além disso, boa parte dos alunos e seus familiares — e também funcionários da educação — contam apenas com o sistema público de saúde cuja precariedade não é novidade e só se agravou durante a pandemia. Diante desse quadro, o que deve ser levado em conta neste momento? A vida com dignidade da população ou a volta às aulas presenciais?

Não há vacina ou resposta imediata disponível para vencermos a pandemia. Diversas autoridades, diante desse quadro, fazem declarações negando dados científicos. Mas, ao mesmo tempo, não conseguem apresentar soluções para o enfrentamento da crise. A hipótese de testar apenas professores não é eficaz, tendo em vista a possibilidade diária de contágio, a janela imunológica e os resultados falso-negativos recorrentes. Os alunos, que formam a maioria nas escolas, não serão testados e como demonstra a pesquisa pela prefeitura de São Paulo [2], jovens apresentam casos 70% assintomáticos, propiciando uma oportunidade de perigo para todos com a decisão do retorno. Outro estudo, feito pela revista Journal of Pediatrics [3], mostra que jovens entre 11 e 16 anos têm uma carga viral maior que adultos do Sars CoV-2, apontando a necessidade de considerar esses fatos ao organizar o retorno às aulas presenciais

Outro argumento é que apenas professores sem comorbidades e sem familiares com estas condições de saúde poderão voltar às aulas presenciais, no entanto isso não garante a salubridade do espaço e a garantia de vida aos profissionais e estudantes que estão sendo conduzidos como experimento.

Temos clareza sobre a falta de conhecimento acerca das medidas necessárias para garantir a segurança de todos, das manifestações da doença que podem ser silenciosas e fatais, além da vacina ainda estar em fase de testes. Portanto, nós, os profissionais do Colégio Estadual Gomes Freire de Andrade resolvemos nos posicionar pela preservação da vida das pessoas que fazem parte do nosso dia a dia e que nos são tão importantes. É um compromisso que deve ser assumido por todos nós, até que essa fase seja finalmente superada.

Como formadores e educadores, nos perguntamos qual é a nossa função neste momento? Fingir que estamos encaminhados para uma normalidade ou exercer coletivamente a nossa cidadania com os alunos? Decidimos pela segunda, pela vida e pela cidadania, contra o retorno às aulas presenciais. E deixamos a pergunta: quem está sendo protegido pelas medidas tomadas pelo Estado e pelo Governo? Definitivamente não somos nós.

Referências:

Disponível em: <https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/09/23/casos-e-mortes-por-coronavirus-no-brasil-em-23-de-setembro-segundo-consorcio-de-veiculos-de-imprensa.ghtml> Acesso em:24/09/2020

Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/08/27/sete-a-cada-dez-criancas-eadolescentes-infectados-por-covid-19-sao-assintomaticos-diz-pesquisa-da-prefeitura-de-sp.ghtml> Acesso em: 04/09/2020.

Disponível em: < https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/08/20/criancas-com-covid-temcarga-viral-superior-a-de-adultos-na-uti-em-estudo-dos-eua.ghtml> Acesso em: 04/09/2020.

PROFESSORES SIGNATÁRIOS:

Alexandre Meira de Oliveira

Carlos Eduardo de Assunção Hryhorczuk

Liege Sarmento Mendes Pereira

Maria de Fátima  Corrêa Borges

Renata Neves

Allan Kardec de Brito Filho

Fábio Theodosio do Nascimento

Lúcia Regina Nascimento Pinho

Maria Edite Afonso  Fernandes

Roberta Stumbo Freire

Ana Cláudia de Albuquerque Quintanilha

Francisco Martos Fernandes Patrício

Luciana Souza Vieira

Marivalda Silva Campos

Roberto Lacerda Moreira

Ana Fernandes Gabriel

Geiziane Angelica de Souza Costa

Luis Felipe de Assis Silva

Maurício Pereira

Simone Barbosa Nogueira Costa

Ana Paula Almeida Domingues

Giulia de Vito Nunes Rodrigues

Maire Helena Pereira Guimarães Baltar

Michelli do Nascimento Maselle

Simone Fernandes de Figueiredo

Angelica Getirana Santana

Henrique César Gonçalves da Motta

Marcelo da Silva Affonso

Nilza de Fátima Aguiar

Simone Silva Silveira

Antonio José Fernandes Barroso

Jackeline Mendes da Rocha

Marcelo Elias da Silva

Patrícia Pinto Xavier

Simonne Costa de Souza

Bernardeth Firmina Porto

Jeorgia Maria Corrêa de Souza

Marcelo Santana Fiuza

Paula Pereira Soares da Silva

Síntia Roberta Araújo da Silva

Brasiluci Ferreira

Joventina Moreira Magalhães

Marcia Cristina de Araujo

Pedro de Souza Barbosa

Valdiceia Peteira de Araujo

Bruna Capella Papacena

Kátia Regina dos Santos Castro

Marcia Santos de Cavalho

Priscila Azeredo da Ailva

Vanessa Conceição Souza de Vasconcelos

Carla Marques Cerqueira dos Santos

Leandro Siqueira

Marco Aurélio Lissonger Guimarães

Rafael de Oliveira Pessoa de Araujo

Vanessa De Vasconcelos Pugliese

Acesse o PDF do documento aqui

ou leia abaixo o conteúdo da carta na íntegra:



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