“... E a cidade que tem braços abertos num cartão postal,
Com os punhos
fechados na vida real,
Lhes nega
oportunidade, mostra a face dura do mal”
Nos últimos dias os conflitos armados ocorridos nas
comunidades cariocas foram manchete em todos os jornais, retomando o centro de
um antigo debate: como resolver o problema da violência?
Especialistas aparecem nos jornais defendendo a necessidade
de aumentar o aparato policial nas favelas como solução para acabar com o
tráfico. Mas será que só existe tráfico nas favelas? Como chegam as drogas, se
não há plantio nestas áreas? Como chegam as armas, se não há indústria bélica?
O descaso dos governos com os trabalhadores que moram nestas
comunidades é total. Não existem políticas públicas. Não há projeto de melhoria
das moradias, saneamento básico, lazer, saúde, respeito a cultura e a história
destes locais. As autoridades nunca ouvem de fato os moradores destes locais.
Apenas fingem ouvi-los em épocas de eleição.
O Estado só se faz presente com as operações
policiais/militares e, com a garantia de matrícula (ainda que insuficiente) nas
unidades escolares. A política das UPP’s não resolveu o problema da violência.
Ao contrário. Seu objetivo é legitimar a criminalização da pobreza.
Constantemente as aulas são interrompidas. Na maioria das
vezes com escolas repletas de profissionais e alunos, que tentam sobreviver
ficando horas deitados no chão. Algumas vezes profissionais são pressionados a
trabalhar sob a alegação de que é preciso garantir 200 dias letivos. As
direções sofrem com uma autonomia equivocada, que coloca sob sua
responsabilidade a decisão de garantir a segurança e vida de centenas de
pessoas. Os alunos, diante desta realidade, tem seu processo de
ensino-aprendizagem extremamente prejudicado.
Inúmeras vezes procuramos a Secretaria Municipal de Educação.
No mês de agosto, cerca de 90 profissionais de escolas e EDI’s da Maré foram à
SME e sequer foram recebidos. Fatos como este demonstram o total descaso da
Prefeitura com a educação pública de qualidade em nossa cidade, com a
população.
Ao invés de dialogar com os profissionais e comunidade
escolar, ao invés de investir em políticas públicas, a Prefeitura ignora estes
problemas, importando-se apenas em nos cobrar a garantia do aumento dos índices
de aprovação.
Não podemos mais permitir que este massacre que leva a vida
dos nossos alunos, dos responsáveis, dos nossos amigos, continue.