quarta-feira, 10 de abril de 2013

Nota do Sepe sobre o programa da TV Globo

O programa “Encontro com Fátima Bernardes”, exibido na última 2ª feira, 8 de abril, abordou o tema “Profissão Professor”. Auxiliada pela Educadora Andrea Ramal, consultora da área de educação da TV Globo e autora do livro “Depende de Você - como Fazer de Seu Filho uma História de Sucesso”, obra adquirida e distribuída nas escolas estaduais pela SEEDUC em 2012. O debate, a nosso ver, tentou retirar dos governos a responsabilidade pela precarização da educação pública hoje no país – tratando o tema como uma escolha vocacional, individual, sem dar respostas às questões materiais (baixos salários, estrutura ruim, poucos investimentos etc) que tanto afligem os profissionais de educação em todo o país.

Fátima entrevistou professores e alunos buscando responder a seguinte indagação: “O que leva um jovem a ser professor?”. Apesar da ressalva, no início do programa, de que apenas 2% dos jovens atualmente no Brasil buscariam os cursos de licenciatura, por conta da falta de valorização da carreira, dos baixos salários e da violência no espaço escolar, o programa optou por abordar a carreira do magistério como um dom ou vocação, abstendo-se de problematizar as questões estruturais que tornam a carreira menos atraente, tais como a falta de políticas públicas que valorizem os profissionais da educação e a falta de investimentos dos governos no setor.

De acordo com Andréa Ramal, o magistério traz inúmeras recompensas que não passam pelo lado material, uma delas estaria ligada ao aspecto social, uma vez que, segundo a educadora os docentes buscariam a carreira por um ideal, ou seja, o desejo de ser um agente transformador da sociedade.

Os professores entrevistados também afirmaram a importância da vocação e de que teriam buscado a profissão muito mais por amor/paixão do que propriamente pelo retorno financeiro.

A ideia de que através da criatividade e da generosidade o professor será capaz de superar os desafios que envolvem desde a falta de interesse até as dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos alunos nas classes, explorada pelo programa - “o bom professor é aquele que transcende o conteúdo”, afirma o programa -, corrobora com a tese de responsabilização do docente pelo “dito” fracasso escolar, pois o sucesso da aula e dos alunos dependeria do esforço “pirotécnico” do profissional.

Com afirmações do tipo “você faz a diferença”, o programa pautou a profissão docente enquanto Responsabilidade Social, reduzindo a carreira a um esforço voluntário, onde cada um “faz a sua parte” em busca do bem estar coletivo. Este tipo de abordagem, em nossa opinião, não ajuda a elucidar os reais problemas que permeiam o exercício da profissão. Ao não tocar nas questões estruturais que aprofundam o sucateamento da educação pública e a desvalorização de seus profissionais; ao diferenciar a carreira docente das demais profissões, atribuindo-lhe um perfil afetivo, voluntário, que transcende as reais necessidades de subsistência e de reprodução da vida dos professores - isso tudo acaba por legitimar o descompromisso dos governos. Também pode contribuir para apassivar a insatisfação destes trabalhadores que, ao não se enxergarem enquanto tal, vão perdendo a sua identidade de classe e abrindo mão da luta por melhores salários, condições de trabalho e em defesa da escola pública.

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