10/09/2009
Dimmi Amora, Jornal O GLOBO.
A atuação dos PMs durante uma manifestação de professores anteontem no Centro foi criticada por especialistas na área de segurança. Pelo menos 11 pessoas ficaram feridas durante o conflito, em que foram disparadas balas de borracha e detonadas bombas de gás e de efeito moral. A atitude de um policial, que apontou uma arma de fogo na direção de professores, foi considerada totalmente fora dos padrões.Parte dos 11 feridos teve ferimentos graves. O professor de educação artística Luiz Ricardo Pereira, de 38 anos, sofreu queimaduras de segundo grau na perna esquerda. Ontem, ele se recuperava em casa e durante algum tempo não poderá ir para o Colégio Estadual Lara Vilela, em Duque de Caxias, onde dá aulas há um ano.Com um salário de pouco mais de R$600, Luiz Ricardo contou que gasta quase um terço do que ganha com transporte. Ele disse que foi ferido porque uma das bombas explodiu no seu pé:— Estou lutando para continuar como professor. Na semana passada, uma colega deixou a escola. Os municípios da Baixada estão fazendo concurso oferecendo R$1.800 ao professor.
Confusão teria começado com guarda municipal
Professores que estavam no protesto anteontem reclamaram da truculência da PM. Há duas versões para o início da confusão. A primeira é que um guarda municipal teria tentado impedir os manifestantes de abrir um cartaz com nomes de deputados. A segunda é que o agente teria tentado evitar o uso de um carro de som. Teria havido uma discussão entre o guarda e um professor, que recebeu voz de prisão de PMs. Os manifestantes teriam tentado soltá-lo. Foi quando um policial teria apontado a arma para eles e feito dois disparos para o chão. A partir daí, foram disparadas balas de borracha e lançadas bombas, que feriram os manifestantes e também um policial. A partir daí, o despreparo dos policiais do 13º BPM (Praça Tiradentes) e do Batalhão de Choque ficou evidente. De acordo com o coronel reformado da PM José Vicente da Silva, ex-secretário nacional de Segurança Pública, em casos de manifestação, a polícia deve estar sempre preparada para o pior. Ele afirma que, numa situação como essa, os policiais não devem estar com armas de fogo — não só para não ferir manifestantes, como para evitar que eles tomem as armas dos PMs. — A tropa nesse caso tem atuação coletiva. Tem que agir sob o comando de um oficial, que deve determinar todos os atos, inclusive os usos de bombas e balas de borracha, que só devem ser disparadas em manifestantes que estejam atirando objetos ou causando depredações. São técnicas básicas e universais de controle de distúrbio em países democráticos, onde o direito de manifestação é legítimo — afirmou o coronel
Professor asmático sofreu devido a gás lacrimogêneo]
Professor de sociologia da escola do Presídio Evaristo Morais, Mário Miranda, de 35 anos, sofreu também depois do confronto. Asmático, ele respirou gás lacrimogêneo e só pôde dormir após sessões de nebulização. Segundo Mário, a atuação da PM só reforça a imagem negativa da corporação. — Parece mais uma vez que é uma polícia contra a população — disse o professor. A Polícia Militar não se manifestou sobre o assunto até ontem à noite.
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